Podemos dividir o risco de uma ação, ou de uma carteira, em duas categorias: (1) risco de mercado (ou sistemático ou não-diversificável), e (2) risco específico (ou não-sistemático ou diversificável).
O risco específico é próprio de cada empresa em que se está investindo, como, por exemplo, uma nuvem de gafanhotos que atinge lavouras no Rio Grande do Sul e prejudica os lucros de empresas do agronegócios de lá, mas não afeta os resultados de montadoras de automóveis do ABC. Assim como uma greve de trabalhadores do ABC afeta as montadoras de lá, mas não tem impacto nas lavouras e colheitas do Rio Grande do Sul. Por isso pode ser reduzido dentro de uma carteira de investimentos.
Já o risco de mercado é relativo a eventos que atingem a grande maioria das empresas da economia, ou seja, do mercado como um todo. A pandemia e seus efeitos é um exemplo de risco de mercado, pois todas empresas são impactadas por ela, algumas com prejuízos e outras até mesmo com maiores ganhos. As variações das taxas de câmbio e de juros são também riscos de mercado, pois atingem os resultados das empresas aumentando custos, ou até facilitando o acesso dos consumidores a produtos.
Por meio de metodologia desenvolvida por Evans e Archer em 1968, é possível estimar a proporção de risco de mercado ou sistemático que uma ação tem em média. O gráfico a seguir mostra a evolução no período de outubro de 2015 a julho de 2020 do risco de mercado nas ações dos Estados Unidos e do Brasil, com simulações de 2000 carteiras aleatórias para cada mês e país, e considerando todas ações disponíveis nas bolsas de cada local em cada período.
No período como um todo temos em média que 50% do risco de uma ação no Brasil é de mercado, enquanto que nos Estados Unidos é de 44%. Em outras palavras, seja qual for a ação que você tiver, se acontecer algum evento que toca o mercado então sua ação sentirá bastante os efeitos.
Também no gráfico se pode perceber dois efeitos interessantes:
a partir de 2019 o risco de mercado das ações dos Estados Unidos cresceu a um patamar similar ao das ações listadas no Brasil, possivelmente pela concentração e aumento da relevância das empresas de tecnologia no mercado dos EUA;
a crise elevou a parcela de risco de mercado nas ações em geral para 60%, ou seja, as ações passaram a ser ainda mais impactadas pelo que acontece na economia como um todo, e as atitudes dos governos influencia ainda mais os resultados do mercado acionário.
O risco (desvio padrão) como um todo das carteiras simuladas cresceu em 2020 aproximadamente 12 pontos percentuais em relação a 2019, ou seja, não somente a parcela do risco de mercado aumentou mas sim o risco total de uma ação.
Mas há boas notícias, pois a partir de julho de 2020 já percebemos sinais de diminuição do risco de mercado nas ações tanto do Brasil como dos Estados Unidos, o que é o início de que o pior da crise talvez já tenha passado, e tempos melhores virão.
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