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  • Foto do escritorRicardo Rochman

É Suitability ou Shitability?

Quem já fez algum tipo de investimento no Brasil teve que preencher o formulário de adequação de perfil do cliente (sim aquele formulário chato que você não entende bem para que serve). O mercado faz isso devido a instrução 539 de 2013 da CVM (http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/anexos/500/inst539consolid.pdf), que trata da Suitability, ou seja, sobre identificação e adequação do perfil de risco do cliente (usualmente classificado como conservador, moderado ou arrojado) com os produtos financeiros que compõem sua carteira.


Reparem que os formulários de suitability têm usualmente 9 perguntas, o motivo é que a instrução 539 da CVM tem 9 itens que devem ser questionados para o cliente para atender a regulamentação. Entre nós, 9 perguntas são suficientes para entender o perfil de risco do investidor, seus objetivos pessoais e familiares, e garantir um aconselhamento adequado ao investidor? A resposta é não, precisaríamos de dezenas ou centena de perguntas para fazer o trabalho direito.


Porém o problema é também diferente, pois o perfil de risco não deve ser o principal direcionador para realização dos investimentos, como preconiza a instrução 539. Para se construir uma carteira diversificada (que é sempre recomendada assim como chá de camomila) é necessário conhecer primordialmente quais são os objetivos e sonhos do cliente e sua família, e a partir daí sim estabelecer metas e alocações dos recursos, conforme patrimônio, condições de mercado, etc.


Isto quer dizer que idosos podem investir em ações? Sim, afinal não é por ser idoso que está morto. Isto fica mais claro nos dias de hoje com uma taxa SELIC de 2,25% ao ano, o idoso precisa correr mais riscos para manter seu poder de compra, pois a inflação medida pelo IGP-M (usada comumente para aluguéis) está acumulada nos últimos 12 meses em 7,31% ao ano. Um formulário de suitability dirá que o idoso é conservador, e isto resultará na verdade em um idoso pobre.


Assim como produtos de previdência, como, por exemplo, o VGBL pode ser adquirido por idoso já aposentado para tratar de sucessão patrimonial, facilitando o processo de herança e tendo ganhos tributários para seus sucessores. Um pouco de câmbio (risco cambial) costuma ser recomendado, pois auxilia na diversificação dos investimentos (lembro que diversificar já é por si só uma forma de proteção), mas o perfil conservador costuma ignorar essa forma de investimento.


Atualmente a instrução 539 serve mais como instrumento de proteção às instituições financeiras, e seus assessores de investimento, para o caso de alguma reclamação do cliente, por isso é muito mais shitability do que suitability. O investidor precisa ser educado, e principalmente bem assessorado por alguém que converse e conheça os anseios e problemas do investidor.


A CVM deve rever a instrução 539, construída a partir de ideias como racionalidade do investidor e fronteira eficiente de Markowitz, ao invés das ideias de economia e finanças comportamentais.


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