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Foto do escritorRicardo Rochman

Série Tranqueiras: o COE

Existem no mercado financeiro um conjunto de produtos que deveriam ser cancelados pelos reguladores, ou mantidos por uso limitado a investidores qualificados e certificados, ou seja, que saibam exatamente como utilizar tais produtos. Na verdade, os investidores qualificados nem precisam de tais produtos, pois seu acesso ao mercado financeiro e de capitais permite que eles construam tais produtos com melhor eficácia e custo. Esses produtos que deveriam ser cancelados irei chamar gentilmente de "tranqueiras" (é a expressão mais educada que encontrei para eles).


O Certificado de Operações Estruturadas (COE) é a primeira das tranqueiras que discutiremos aqui.


Primeiramente, vamos entender que Operações Estruturadas é algo antigo no mercado financeiro, e são construídas para atender necessidades específicas de investidores (ou seja, são customizadas), pessoas físicas ou jurídicas, como, por exemplo, garantir proteção quanto a um determinado risco como o cambial, ou especular no curto prazo para aproveitar algum movimento no mercado acionário. Estas operações não são baratas, justamente por serem customizadas, e acabam sendo restritas a grandes investidores.


O COE foi criado para facilitar a comercialização das Operações Estruturadas, e foi consequentemente popularizado. Isto parece ser positivo, mas temos que lembrar que essas operações estruturadas são para casos específicos, não devendo ser popularizadas, afinal podem (e terão) seu uso desvirtuado.


Mas por que popularizaram os COEs? Dois motivos principais, o primeiro é que são uma forma barata de captação para bancos, que muitas vezes se ajustam às necessidades das tesourarias dos bancos. O segundo motivo é que remuneram bem os bancos, corretoras e demais distribuidores desses produtos. E os investidores? Sendo bem claro, a enorme maioria não precisa desses produtos.


Na recente pesquisa "O Retorno Esperado dos COEs", que recomendo a leitura, (https://sites.google.com/site/bcaragiovannetti/home) os autores Giovannetti, Bitu, Chague e Hamdan analisaram 284 COEs vendidos para mais de 100 pessoas entre 2016 e 2020, e usando 10.000 cenários na simulação de Monte Carlo para cada COE, estimaram a rentabilidade média e risco dos COEs.


Os autores separaram os 284 COEs em 2 grupos, em função dos períodos de dados disponíveis, calcularam o retorno esperado para os COEs, e encontraram que no grupo de 50 COEs emitidos em 2016-2019 o retorno excedente a taxa de juros do Tesouro Direto foi -3,36% ao ano (sim, foi negativo), no grupo de 234 COEs emitidos em 2019-2020 o retorno excedente foi -2,01% ao ano (também foi negativo).


No geral o estudo concluiu que "aproximadamente 90% dos COEs avaliados no estudo ofereceram aos seus compradores um retorno esperado inferior ao retorno disponível no Tesouro Direto no momento da compra". Operações Estruturadas devem existir para atender demandas muito específicas, mas COEs...não.


Resumindo, as pessoas não precisam dos COEs, pois a rentabilidade não compensa, e concordo com os autores do estudo que lembram "que COEs são investimentos ilíquidos e sem garantia de crédito" e de forma geral não deveriam ser incluídos nas carteiras de investimentos. COE é tranqueira.


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